? O que você vai descobrir: Técnicas financeiras para reduzir, quem sabe até, eliminar as dívidas do presente e principalmente, você vai se surpreender com o meio mais eficaz do mundo de se acabar de uma vez por todas com as dívidas do futuro: VOCÊ é mais importante que seu orçamento


Dois dos assuntos que as pessoas mais me abordam sabendo que sou planejador financeiro pessoal são: onde investir o dinheiro que sobra e como sair das dívidas? Os dois temas são indiscutivelmente importantes, apesar das duas perguntas esconderem dentro de si a raiz do porque estão endividadas e/ou não investem. Muito pode ser dito sobre ambos e muitas respostas podem ser dadas, e aí reside o problema:

Para uma pergunta errada, qualquer resposta será equivocada!

Comumente na internet você verá inúmeros blogs, canais no youtube ou sites explicando sobre investimentos e dando fórmulas mágicas para sair das dívidas, mas por melhor intencionados que estes meios de informações possam ser, as respostas serão sempre simplistas e equivocadas pois focam no sintoma e nunca (ou quase nunca) na causa.

Seis e quinze da manhã:

– Betinho, meu filho, vamos acordar? Já está na hora.

– Aah mãe, só mais cinco minutinhos… – Betinho sonolento se espreguiça sobre a cama, contrariado por já ter chegada a hora de se aprontar para a escola.

– Filho você já está atrasado, a van chega em 20 minutos.

Ele se levanta seguindo o pedido da mãe. Apesar de ter apenas oito anos, realiza todas as preliminares sozinho antes de ir para a escola. Enquanto sua mãe Laura prepara o café, Betinho se levanta, calça os chinelos, toma o próprio banho, coloca o uniforme, se dirige à mesa, come sua tigela de cereais com iogurte ainda bocejando, apanha a mochila e com um beijo da mãe em sua testa, ainda à porta, se despede feliz, entra na van e vai para escola, retornando somente por volta do meio dia.

– Está com fome filho? Pergunta Laura.

– Muita mãe!

Ele almoça, faz suas tarefas, joga Minecraft, brinca, lancha, toma banho e dorme. Todos os dias a mesma rotina. Até que um dia, logo após chegar, antes mesmo de almoçar ele reclama.

– Mãe meu dente está doendo.

– Venha cá – diz a mãe preocupada – abra a boca. Quando seu pai chegar iremos ao dentista.

Uma criança com oito anos normalmente não gosta de ir ao dentista, mas diante da dor não havia muito o que fazer.

O diagnóstico foi rápido e direto: Cárie!

– Seu filho está com todos os molares cariados. – Disse o dentista – Como são os hábitos de escovação dele?

Laura olhou para o filho e perguntou:

– Como são seus hábitos de escovação?

O filho olhou para ela como se perguntasse “Quais são os meus hábitos de escovação?”

– Senhora, apesar de os dentes serem de leite, precisamos tratar. Porém de nada adianta tudo que eu fizer se ele não tiver hábitos melhores.

A mãe percebia a recomendação do dentista, mas sempre buscava uma solução mais imediata para tudo e balançando com a cabeça como se concordasse, decidiu que trataria de outra forma a forte dor do filho. De certa forma era incômodo perceber que a razão de todo o problema era na verdade uma negligência de sua parte que findava no mau hábito do filho.

– Eu já sei doutor. Ele está com dor, não está? Eu mesma resolvo isso. – Disse ela puxando Betinho pelo braço – Vamos à farmácia, vou te dar um Tylenol.

O dentista espantado contestou:

– Minha senhora, isso não vai resolver o problema. A cárie continuará aí do mesmo jeito e a dor vai voltar.Ela olhando para o dentista num ar de desdém retruca.

– Se não funcionar, aplicamos morfina!


boy holding ice cream
Photo by Jared Sluyter / Unsplash

?Uma reação em cadeia

O que você acha desse comportamento? Provavelmente, assim como eu, repudia o comportamento da Laura, e ainda que fosse ela com os dentes cariados sentindo essa dor insuportável, você julgaria a atitude dela sendo no mínimo: INÚTIL!

Perceba, é fato claro e notório que o problema do filho não vai se resolver com um simples analgésico nem tão pouco com uma dose cavalar de morfina. A cárie continuará lá, e tão cedo quanto o efeito do remédio acabar, ela voltará a incomodar cada vez mais. Todavia, sabe o que é mais interessante? A cárie em si não é o problema, ela é a doença e independentemente de quais sejam as motivações, o problema na verdade se resulta num simples fato: o hábito de não escovar os dentes.

Percebe a reação em cadeia?

NÃO ESCOVAR OS DENTES ➡️ CÁRIE ➡️ DOR

Um segundo! Antes que você se pergunte se não está lendo um artigo escrito pelo ator Carlos Machado que também é dentista – mas você não sabia – e vai falar do Crool Centro Odontológico, eu lanço um desafio: Você consegue identificar essa cadeia de causa e efeito no diagrama abaixo?

AÇÃO ➡️ REAÇÃO ➡️ EFEITO

De modo geral, toda ação, algo que você executa – deixar de fazer algo também é uma ação – leva a uma reação, um princípio que você já conhece! “Pronto! Colocou física no meio”. Mas é verdade. Tudo que você faz na vida (ou deixa de fazer) tem um propósito e resulta em uma reação, que pode ser inclusive, diferente do que você pretendia inicialmente. É simples:

Faço academia e dieta ➡️ Emagreço (as vezes não… hahah)

Levo comida de casa para o trabalho ➡️ Economizo

Peço alguém em casamento ➡️ Recebo uma resposta afirmativa (ou não”).

Enfim, todas as ações que impetramos resultam em algo. E como eu tenho certeza que você já está convencido disso, me sinto pronto para incluir um outro ingrediente neste princípio fundamental: o efeito.

O efeito é o produto final daquilo que nos acontece e que necessariamente está vinculado à alguma emoção ou sensação. Em outras palavras posso dizer que:

Tudo que fazemos, do jeito que fazemos, resulta em algo e isso nos faz sentir de algum modo.

Imagine agora quais seriam os possíveis efeitos finais, em termos de emoções, de cada um dos exemplos acima.

?Quando emagreço me sinto: ORGULHOSO/FELIZ de como me vejo

?Ao economizar me sinto: REALIZADO quando conquisto o que tanto queria adquiri;

?No momento que peço a pessoa que amo em casamento: me sinto FELIZ quando ela aceita;

Em termos gerais, para tudo que fazemos esperamos um resultado que nos faça sentir bem. Não importa o que! Não há um exemplo sequer onde isso não seja verdade em última instância. O ser humano é por natureza egoísta, o que faz todo sentido para qualquer ser que busca antes de mais nada a própria sobrevivência. Talvez você possa me questionar, “…mas quando faço caridade estou me preocupando exclusivamente com o outro”. Não é bem assim. Estamos de acordo que nos preocupar com o próximo é algo louvável e fundamental, mas as pessoas que preocupam, apenas o fazem por que se sentem bem com isso, e não há nada de errado.

Faço doações para pessoas carentes ➡️ Uma pessoa se beneficia com isso ➡️ Me sinto FELIZ.

Já percebeu a relação com o endividamento? Ainda não? Vamos deixar ainda mais claro inserindo a recorrência.

Recorrência segundo o dicionário significa repetição, algo que ocorre do mesmo modo sucessivas vezes. Deste modo, que nome damos à uma ação recorrente? Comportamento! Toda ação repetida sucessivas vezes pode ser compreendida como um comportamento, tal qual “não escovar os dentes antes de dormir”.

Por sua vez, uma reação recorrente pode ser compreendida como uma condição, isto é, uma conjuntura à qual a pessoa está inserida, fruto de sucessivas ações ou comportamentos, que a levaram àquela condição. É fácil perceber que o comportamento de não escovar os dentes leva os dentes a uma condição de insalubridade, o que não ocorreria com um simples fato isolado, ou seja, uma única vez que você deixasse de escovar os dentes durante a noite não provocaria cárie.

À essa altura você deve estar se perguntando… “e ao efeito recorrente, que nome damos?” Se uma pessoa, repetidamente, de forma contínua e frequente, sente algo, temos então um estado. Um estado de dor, de felicidade, de apatia, de tristeza, depressão… o ser humano é capaz de entrar e sair de inúmeros estados ao longo da vida. Aquela vez em que você disse: “estou me sentindo desmotivado”, em outras palavras você estava em um “estado de desmotivação”. Algo que você sente e que rapidamente passa é uma sensação, ao contrário, quando isso perdura, damos o nome de estado emocional.

Por fim temos a chave mestra que explica e orienta como tratar uma dívida:

COMPORTAMENTO ➡️ CONDIÇÃO ➡️ ESTADO

OU

COMPORTAMENTO ➡️ ENDIVIDAMENTO/DÍVIDA ➡️ ESTADO DE APRISIONAMENTO

Vamos decifrar essa relação do fim para o começo e ao cabo desse artigo, estou certo de que você entenderá o que precisa para sair das dívidas.


woman spreading hair at during sunset
Photo by Aditya Saxena / Unsplash

?O ESTADO

O estado final de quem se encontra endividado, o sentimento de quem tem estes compromissos financeiros que corroem sistematicamente seu orçamento, podem ser os mais variados possíveis: tristeza, desespero, desmotivação, apatia, etc. No entanto, tudo se resume em última instância à uma dor terrível: sentir-se preso!

Lembre-se. O que a lei prescreve para punir alguém que comete um crime? Cerceamento da liberdade. Seu filho, caso tenha, o que você pode fazer para puni-lo? O deixar de castigo, em um lugar que não pode sair. Viu? Nós seres humanos temos como um dos princípios básicos para felicidade, a liberdade. Pessoas que estão presas, que não possuem escolhas, que não podem decidir os rumos que querem tomar são infelizes; logo, dever dinheiro, que em essência é a materialização das infinitas possibilidades, nada mais é, que ter suas possibilidades retiradas de vocês, afinal, o dinheiro que você deve não pertence a você, ou em outras palavras, suas possíveis escolhas não são suas.

SENTIMENTO DE LIBERDADE NÃO COMBINA COM ENDIVIDADO

Em função disso, pessoas endividadas não sentem-se plenamente felizes com seus orçamentos e têm sua qualidade de vida comprometida.

Salvo em situações excepcionais que envolvem demandas urgentes não planejadas como saúde, falecimentos, etc. Dívidas normalmente são contraídas para financiar algo que lhe dá prazer, no entanto, uma vez que você já obteve esse prazer – lembre-se que você só sente prazer no presente – a sensação passa; e o que resta é a dor do “abrir mão”, neste caso do dinheiro e do que ele significa para você. O prazer passa, mas a dor fica. E como você não sente prazer na viagem que já fez, a dor predomina e você lida com ela por meses ou anos a fio.

Ciente disso você pode começar a pensar “como então eu trato o sintoma?”. A resposta é “não há tratamento”. O modo como você se sente depende das condições em que você se encontra e que você cria. É uma consequência final, que você tem pouco ou nenhum controle neste caso. A menos que você passe a se sentir feliz por estar incapaz de definir os rumos do dinheiro que você ganha – o que não faz muito sentido – o sentimento de aprisionamento perdurará. No entanto há sim um bom começo para tratar a sensação de aprisionamento com 3 dicas:

LEIA TODO ESSE ARTIGO…

 SE AUTO RESPONSABILIZE…

E PERDOE-SE!

Exatamente isso. Você é o responsável pelo estado em que se encontra, seja porque teve ações equivocadas com o seu dinheiro, seja porque você não se planejou. Independente do motivo, no final das contas, você é o único responsável pelo seu estado. Todavia, de nada adianta se martirizar. Perdoe-se. Esteja ciente do papel de suas ações em sua vida, perdoe-se caso você tenha feito algo que não devia e aprenda com o erro.

“Na vida não há derrotas, somente vitórias ou aprendizado.”

Agora é hora de um plano:

?A CONDIÇÃO

Antes de qualquer orientação, gosto sempre de frisar que tratar somente a dívida atual e não “as dívidas futuras” é o primeiro passo para fracassar miseravelmente no seu projeto “minha vida sem dívidas.” Se você não transforma o devedor e ataca somente a “dívida”, negligenciando todo o poder que o sujeito tem de transformar sua realidade para melhor ou pior, você apenas enxuga gelo. Feita a ressalva, vamos à dita cuja. A dívida em si ou o endividamento é a condição em que você se encontra. Aqui entram as técnicas e possíveis orientações profissionais para que você saia da dívida, lembrando é claro, que cada caso é um caso. Não se trata de resolver o problema (comportamento), mas o resultado deste comportamento que você vinha tendo.

ORIENTAÇÃO 1 (A mais importante de todas): Ajuste seu orçamento

Na maioria dos casos, a dívida surge em função de desarranjos orçamentários decorrentes da falta de planejamento. Planilhe todos os seus gastos; caso queira, baixe gratuitamente nossa planilha REAL de gastos, para te ajudar a estimá-los. Nela você percebe que tem na verdade muito mais gastos do que você se lembra. Se você ganha R$ 4.000 e nas suas contas mensais gasta R$ 4.000 eu afirmo: você é ou estará endividado. Identifique todos os seus gastos e logo em seguida faça ajustes em todos os itens possíveis. Aqui o segredo é enxugar pouco de muita coisa e não muito de pouca coisa. Deste modo você minimiza o impacto na sua qualidade de vida e de sua família.

ORIENTAÇÃO 2:  Consolide

Quando você tem várias dívidas diferentes é possível reunir todas em uma única, a isso damos o nome de consolidação de dívidas. Porque isso é vantajoso? São vários motivos, veja só:

1. Taxas menores: Se você tem várias dívidas com diferentes taxas, através da consolidação você junta todas em uma única, normalmente com a taxa média, o que contribui para reduzir drasticamente os juros de dívidas com taxas elevadas, ou seja, você paga menos juros.

2. Organização: Ao invés de pagar um monte de parcelas em datas diferentes, você aglutina tudo em uma única parcela com uma única data de vencimento. A gestão do seu fluxo de caixa fica muito mais simples e talvez possa não parecer, mas a organização contribui muito para reduzir gastos. É muito mais fácil perder seu celular em uma casa absurdamente desorganizada que no seu quarto com todas as coisas no seu devido lugar.

3. Parcela menor: Quando você consolida todas as dívidas em uma única e associa ainda um alongamento do prazo total da dívida, a parcela pode reduzir consideravelmente.

ORIENTAÇÃO 3: Foco na taxa!

Quando o assunto é dívida seu foco deve estar 80% na taxa e 20% no restante. O que quero dizer com isso? Muitas informações vão inundar sua mente, sobre “o que fazer”, quando, como, onde… Minha sugestão é você se ater principalmente em uma única informação: “qual a taxa”? Verifique no seu banco se você consegue algum empréstimo com taxa menor para quitar suas dívidas atuais. Se a parcela cabe no seu orçamento e a taxa é menor que as suas atuais dívidas: contrate o crédito e se livre das dívidas mais caras, ou seja, as com taxa mais elevada.

ORIENTAÇÃO 4: Liquide patrimônio

É, eu sei. Você ralou a vida toda para comprar o seu patrimônio e agora chega um planejador e te diz: venda. A questão é que muitas vezes para “proteger” seu patrimônio você sacrifica a sua qualidade de vida, sua paz e seu bem estar. Pense comigo: Qual a utilidade do seu patrimônio, senão fomentar sua qualidade de vida no futuro? Se o seu futuro, em função da sua condição de endividamento, fica comprometido… qual função deste patrimônio?

Ainda assim sei que é desafiador em função do apego emocional, mas para isso minha sugestão é, antes de liquidar, procure um profissional para te orientar e garantir que esta ação resultará ao final numa melhor qualidade de vida pra você e sua família, hoje e nos muitos amanhãs que estão por vir.

ORIENTAÇÃO 5: Peça emprestado à familiares e amigos

Calma! Você vai perceber como pode ser vantajoso para você e seu amigo/familiar. Quando você investe seu dinheiro no banco, você está em última instância, emprestando para alguém. Normalmente essas taxas nunca ultrapassam 1%, ou seja, se você pega emprestado com algum amigo e paga para ele 1,5% ao mesmo tempo que do ponto de vista do devedor é uma taxa muito baixa, do ponto de vista do investidor é uma taxa bastante elevada.

Claro, eu sei que isso envolve confiança e esse é talvez o bem mais valioso dessa “operação” de crédito. Portanto, honre seus débitos com esse amigo e você estará ao mesmo tempo, cuidando da saúde do seu orçamento enquanto seu amigo/familiar faz um bom investimento e todos saem ganhando.

?O COMPORTAMENTO

Chegamos à estrela da nossa história. Seus resultados são definidos pelos seus comportamentos e que normalmente são impulsionados pelas suas crenças! Meu querido leitor ou leitora, este é o cerne de toda e qualquer ação: VOCÊ! É impossível eliminar suas dívidas, construir e aumentar um patrimônio, obter qualidade de vida, ou qualquer outro resultado se o foco não estiver em quem constrói esse resultado. Este é o primeiro e mais importante passo para eliminar não só as dívidas do presente, bem como as que estão por vir. Lhe entrego a chave para NUNCA MAIS DEVER:

AUTOCONHECIMENTO ➕ PLANEJAMENTO

Deslize de volta na sua linha do tempo, faça a si as perguntas que encontram-se abaixo, permitindo-se responder cada uma delas com bastante atenção e nesta ordem:

1. Como meu pai e minha mãe se comportavam durante minha infância com o dinheiro?

2. Como meu pai e minha mãe se comportaram durante minha adolescência com o dinheiro?

3. Quais comportamentos dos meus pais eu repito e quais eu busco negar?

4. Em que eu acredito quando faço isso?

5. Em que momento essa crença me foi útil?

6. Em que minha dívida atual tem haver com algum desses comportamentos?

7. Por que essa crença limitante pode não estar sendo útil no momento?

8. Por qual crença possibilitadora essa crença limitante pode ser substituída?

9. Qual ação você executará a partir de AGORA para exercitar essa crença possibilitadora?

10. Como sua vida se transformará com a repetição desta ação transformando-a em um comportamento?

A chances são gigantes de você descobrir, através destas perguntas, que comportamento tem te levado ao endividamento.

A história que mudou minha carreira:

Certa vez, uma cliente, que chamaremos aqui de Paula me procurou buscando auxílio com as inúmeras dívidas que tinha. A situação era crítica, eram mais de 30(!) entre agiotas, antigos aluguéis, fornecedores, bancos, amigos, pai, mãe, etc… O caso era tão grave que eu confesso que duvidei, no momento em que vi a lista, de que algo poderia ser feito.

Até então, no comecinho da minha carreira, eu focava muito mais em observar questões técnicas e práticas, me voltava para a dívida e esquecia do endividado. Sem saber por onde começar, eu pedi que ela pintasse na lista todos os itens que para ela eram prioridade. Eu me espantei! Ao invés de focar nas dívidas mais caras, aquelas que sujavam seu nome como bancos e agiotas, ela priorizaria, caso tivesse o dinheiro para quitar, os amigos e familiares. Foi quando eu perguntei “por qual motivo”? Ela então me respondeu: “O que essas pessoas vão pensar de mim se verem que não tive sucesso!”.

A luz pareceu surgir diante de nós. E por mais que a Paula não pudesse enxergar ainda, eu vi que ali estava a raiz de todas as suas dívidas:

VAIDADE era o problema.

E antes que você a critique, é algo presente em todos nós, em uns mais que outros, mas em todos encontramos a vaidade, que pode ser um remédio ou veneno, só depende da dose. Tudo que ela fazia era para manter um padrão de vida, uma imagem de sucesso a qualquer custo perante as pessoas que amava, porque ela disse uma vez que sairia de casa e voltaria somente quando vencesse na vida.

Ignorava a gestão financeira tanto pessoal quanto de sua empresa, não fazia qualquer tipo de planejamento, inclusive tinha o comportamento de fazer tudo sem pensar no amanhã, afinal, para ela, “só se vive hoje!”. E de fato ela estava certa, a pergunta que fiz foi,

“…e se você estiver viva amanhã?”.

As lágrimas desceram e ela percebeu que a imagem da Paula que ela criara estava destruindo o futuro que ela desejava para si. Entendeu porque sempre se sabotava quando o assunto era olhar para as finanças atuais e planejar seu gastos, pois era o mesmo que confrontar a si mesma com a imagem que ela não só negava, mas buscava acreditar que fosse justamente o oposto de uma vida financeiramente desastrosa, em suma, ela estava viciada nos analgésicos e quando a cárie já havia consumido a raiz do dente nem mesmo a morfina fazia efeito.

Pedi que ela escrevesse uma carta se perdoando. Perdoando a Paula do passado. Que houve sim uma intenção positiva por detrás daquele comportamento e que em algum momento ele foi bastante útil, mas que naquele momento ela se despediria desta Paula. Instrui que ela deveria escrever na carta quem era esta nova Paula e qual comportamento ela teria e que, esse sim, levaria ela ao estado desejado dela de forma sustentável e definitiva. Assim ela o fez, e todo o trabalho a partir daquele dia mudou completamente. Hoje ela ainda possui algumas poucas dívidas controladas e se prepara para comprar o primeiro carro à vista. =)

Essa é a prova de que pessoas são mais importantes que seus orçamentos…

Toda técnica, orientação ou recomendação, que eu havia passado para a Paula durante 5 meses de trabalho havia sido completamente ineficaz. Somente quando ela olhou pra si e percebeu porque fazia o que fazia do jeito que fazia, se perdoou, e visualizou como seria incrível poder agir diferente, é que ela foi capaz de resolver não só as dívidas do presente, mas passou a ter uma vida intencional, com menos “eu gostaria que isso acontecesse” para “eu vou fazer isso para que se torne real, de forma sustentável e duradoura”.

Foi então que aprendi que enquanto você não coloca a “pessoa acima do seu orçamento” é impossível mudar os resultados financeiros de alguém, afinal, o orçamento é um reflexo de como a pessoa compreende o dinheiro, de suas prioridades, medos e motivações. Por isso gosto de afirmar que um orçamento altamente eficiente passa por uma pessoa que se conhece, perdoa e compreende a si mesma. Antes disso, qualquer coisa é apenas técnica vazia, conhecimento sem propósito, analgésicos que tratam o sintoma e não a causa primordial.

#boraREALizar

Escrever um comentário